sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A simbologia da Torre Negra para os leitores fiéis de Stephen King

Não se consegue precisar a época exata, sequer aproximada, em que O Pistoleiro perseguia o homem de preto pelo deserto, mas podemos supor que toda a história relatada nas inúmeras páginas de A Torre Negra passa-se provavelmente em um futuro tão distante que a humanidade voltou a viver nos moldes do passado. E na verdade, o tempo pouco importa para quem ousa aventurar-se neste fantástico épico, pois, como descobrimos, o destino é como uma gigantesca roda que gira infinitas vezes, fazendo com que tudo o que ocorrerá já aconteceu outras vezes, e tudo o que é, será de novo daqui a algum tempo.
Stephen King

Isso, somado ao fato de que, com o a ameaça constante de A Torre Negra - o eixo central que equilibra todos os universos - se desestabilizar, o fator tempo/espaço está prestes a entrar em colapso. E muito embora o mundo de Roland não seja exatamente o nosso, acaba por se mostrar perturbadoramente semelhante por imaginarmos um futuro de caos e devastação que nossa humanidade inexoravelmente alcançará, caso não modifiquemos o modo como conduzimos as coisas.


Assim, o autor da saga, Stephen King, nos leva a um mundo que apresenta características de períodos medievais, permeado por gigantescas parafernálias metálicas que continuam em seu eterno e incompreensível funcionamento, construções futurísticas há muito inútilizadas e abandonadas ao tempo, denotando que ali houve um passado tecnológico que ficou esquecido pelos homens.


Na verdade, a confusão anacrônica também se deve, em parte, ao fato de a Torre Negra estar em risco de ruir, o que deixaria a situação de vida nos mundos em uma condição pré existencial de caos e desordem, que muito interessa ao principal responsável pela destruição do Eixo: o Rei Rubro, um poderosíssimo ser que lidera um exército de criaturas abomináveis.


O Rei Rubro
E se eu estou indo muito rápido ao ponto, tentem entender: a missão e a saga de Roland Deschain em A Torre Negra é grande demais, imponente demais, para ser relatada em tão poucas linhas como estou tentando fazer. Roland quer alcançar a Torre, esta é a engrenagem principal que move toda a história. E mesmo que o próprio Pistoleiro não saiba ao certo que realmente seja a Torre (o que aprendeu foi com as experiências vividas em sua longa vida, pois já é um homem velho), o que sabe o impulsiona a seguir em frente.

Imaginem um relógio de ponteiros do tamanho do universo, onde cada número representa um mundo. Entretanto, todos esses mundo orbitam em um espaço, um vácuo infinito, onde não existe tempo, onde o Nada é algo possível e real. E para cada um desses mundos existe um Guardião, um animal gigantesco, dotado de inteligência, sabedoria, personalidade e poderes que conseguem manter as coisas em ordem, como a Vida exige que seja. E cada um desses mundos, cada um desses Guardiões é ligado a outro imediatamente à frente - como se o doze do relógio fosse ligado ao seis, o três fosse ligado ao nove e assim por diante – por conexões denominadas “Feixes de Luz”. E no centro de tudo isso, unindo e prendendo todos os Feixes está A Torre Negra. Os Guardiões também têm a função de manterem constante vigilância nos Portais que, localizados nos finais dos Feixes de Luz, conectam os mundos entre si.

Destruir os Feixes de Luz desestabilizaria irreversivelmente a Torre, fazendo com que todos os universos se perdessem no caos onde o Tempo e Espaço não existem. Isso faria com que tudo retornasse que era antes de todo o processo da Criação, o que denominam Primal. E é neste contexto que o poderoso Rei Rubro (um poderoso ser que encontra-se aprisionado em um dos andares da Torre Negra) deseja reinar. Assim, ele utiliza-se dos Sapadores (pessoas de todos os mundos que possuem poderes especiais), aprisionando-os e subjugando-os a inúmeras formas de tortura para que utilizem seus poderes no intuito de degenerarem os Feixes de Luz, em um trabalho árduo e constante.

O mundo pós apocalíptico de Roland
Após tudo isso, cabe dizer agora que A Torre Negra acaba por ser A Torre Negra dos livros de King, tendo praticamente todos os seus romances ou contos orbitando ao seu redor. É como se pudéssemos, analogamente, considerar esses livros e contos como os mundos (que se ligam uns aos outros através dos Feixes) com o universo da Torre Negra. Ora, quem é leitor de King sabe que é comum deparamos com um ou outro personagem solto, mero figurante que acaba por mostrar-se importante em outras histórias dele, da mesma forma como as ocorrências históricas nas cidades de diferentes livros acabam sendo citadas em alguns e servindo de pano de fundo em outros.

Andre Linoge
Concluímos assim, por exemplo, que pessoas como Danny Torrence e Dick Halloran do livro O Iluminado, Edgard Freemantle e Elizabeth Eastlake do livro Duma Key, John Coffey de À Espera de um Milagre, Carrie White de Carrie, John Smith e Zona Morta e inúmeros outros personagens que encontramos em diversas obras de Stephen King são ninguém menos do que as pessoas especiais, os Sapadores, que o Rei Rubro costuma aprisionar para utilizar na destruição dos Feixes de Luz. Infere-se também que personagens como Andre Linoge (A Tempestade do Século), Randall Flagg (A Dança da Morte, Os Olhos do Dragão), Leland Gaunt (Trocas Macabras), Parcimonioso (A Coisa), o demônio Tak (Desespero) e diversos outros são os agentes do Rei Rubro ou o próprio, sob outras peles.

Overlock Hotel
Parcimonioso

Da mesma forma, cidades como Derry (cenário de inúmeras obras como A Coisa e Insônia), Jeruralem`s Lot (cenário do conto homônimo em Sombras da Noite e do romande A Hora do Vampiro) e Castle Rock (Trocas Macabras, Cujo, Depois da Meia Noite); lugares como Duma Key, o Overlock Hotel (O Iluminado), Little Tall (Eclipse Total e A Tempestade do Século) e o cemitério Mic Mac (O Cemitério) mostram-se locais que podem estar sendo afetados pelo início do caos provocado pelos agentes do Rei Rubro, ou, simplesmente, locais onde os Feixes de Luz estão sendo “trabalhados” em sua degradação.

Carrie White
Vemos também a aparição dos portais que ligam os mundos, como aqueles que são encobertos pelo nevoeiro enquanto pai e filho ficam presos em um supermercado em O Nevoeiro, o quadro que se abre para Rose Madder e um certo objeto em Buick 8. Tais mundos que se mostram semelhantes aos mundos mostrados no universo de A Torre Negra, como podemos ver também em Os Olhos do Dragão, O Talismã e A Casa Negra.
John Coffey

Não há nada comprovado a respeito dessas inferências. Nem mesmo o próprio autor mencionou qualquer dessas coisas alguma vez, entretanto, como leitor fiel e fã das obras de Stephen King, acredito que tenha um nexo e uma conexão em tudo o que ele escreve. E que essa conexão é a obra que ele levou mais de trinta anos para encerrar (e ainda continua a ser lapidada com obras como The Wind Through the Keyhole, ainda inédita no Brasil e as diversas histórias em quadrinhos, lançadas em parceria com a Marvel Comics, além do conto As Irmãzinhas de Eluria). Assim, cabe aos leitores apenas seguir pelo caminho traçado pelo Feixe de Luz e adentrar em qualquer um dos mundo que rodeiam a Torre, ou seja, qualquer das histórias escritas por esse gênio da literatura moderna para termos longos dias e belas noites.







2 comentários:

  1. Analise abalizada, sem dúvida. Qualquer fã de King já se sentiu transportado a um destes mundos pelos Feixes.

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